Como tradutora, estou acostumada a ouvir/ler que a profissão que escolhi, no momento em que escolhi, está morrendo. Muitos acreditam que a tradução automática, vai acabar com a necessidade de uma pessoa que leia e traduza um texto. Tudo será lançado em um software de tradução e sairá magicamente do outro lado, de forma perfeitamente compreensível, e passaremos (nós tradutores) a ser desnecessários.
Eu não acredito nisto, nem tenho medo de me tornar irrelevante. Basta lembrar o quão dinâmico e orgânico é um idioma, as muitas nuances de nosso raciocínio que dificilmente um algoritmo cobrirá 100%.
É claro que eu entendo e reconheço que as “machine translations” têm o seu valor para situações emergenciais, necessidades pontuais de compreensão no cotidiano, mas o resultado nunca é aceitável (ou mesmo compreensível) para um texto profissional, uma apresentação de uma empresa na internet, para um anúncio com a mensagem correta e que trará os resultados que a empresa espera.
Por exemplo, tenho certeza que nenhum hotel atrairá clientes com a frase “O custo total sala é a soma dos custos mais baixos noturnas por quarto para o número de noites solicitadas.”. Essa é uma frase em inglês, retirada de um site de um grande hotel e traduzida no Google Translate para português. Deu pra entender? Não, né?
Existem várias máquinas de tradução. Estou citando o Google Translate porque eles mesmos admitem que estão preocupados que, o que já não é bom, pode piorar. Há um efeito de deterioração da qualidade da tradução automática inserido na própria lógica do sistema.
O assunto foi discutido pelo Diretor de Pesquisa do Google, Peter Norvig, na conferência Nasa Innovative Advanced Concepts em Stanford, em fevereiro de 2014. Norvig admitiu que a existência de sites que usam o Google Translate para traduzir todo seu conteúdo automaticamente, tem perpetuado e aprofundado os erros de tradução que ele mesmo (Google Translate) gerou inicialmente, porque os servidores do Google reconhecem estes sites como multilíngues e os indexam em seus servidores para alimentar a sua máquina de tradução, com as traduções de baixa qualidade que ele mesmo gerou.
Claro que, nesta admissão do problema, vem a informação de que estão trabalhando na criação de filtros para minimizar estes efeitos.
De qualquer forma, a questão é que nenhuma empresa que quer ser levada a sério deve usar um serviço de tradução automática. O resultado nunca terá uma aparência final adequada, e alguém que não fala o idioma para o qual a tradução está sendo feita, nunca saberá. Mas o cliente que ele quer atingir saberá.
Algumas pessoas defendem o uso da tradução automática com a revisão posterior por um tradutor. E aí começam vários outros questionamentos. A expectativa de um cliente que contrata um tradutor para “revisar um texto já traduzido” é que isto seja muito mais barato. A verdade para o tradutor, por outro lado, é que o trabalho para revisar uma “machine translation” é o mesmo, as vezes até maior, do que traduzir do zero. A necessidade de pesquisa, revisão e edição é as vezes tão grande quanto, e, muitas vezes, o resultado de uma revisão dessas não é satisfatório, não dá para você, como tradutor, aquele prazer de ver um texto “com sua cara”, bem feito, do jeito que você gostaria de entregar.
O mercado de tradução passa sim, por uma profunda transformação e um grande crescimento de demanda. As traduções automáticas, assim como os softwares CAT (computer aided translation) têm um grande papel neste novo mercado, mas esse papel não é eliminar o tradutor. Tenho certeza que tradutor e máquina trabalharão juntos por anos e anos a fio, e os apocalípticos da tradução de plantão que me perdoem, mas não acredito neles. Meu mundo não está acabando.
By: Cássia Afini